segunda-feira, 3 de março de 2008

Henrique Sertori - égo
















Titubear.


O meu filosofar se torna persuasivo e parcial quando saído de minhas cicatrizes...Por isso retorno ao meu estado de inércia e narro um pouco as coisas que me lembro ter visto. Aqui do alto do meu ninho vi coisas que jamais tinha visto, pequenas desilusões, pequenas aparições que chegam sem dizer uma só palavra e desaparecem gritando suas despedidas. Gritos mudos de almas desassossegadas, procurando formas ainda não pensadas de subsistência...Ainda que pareça sádica essa minha visão alheia, o parque de diversões continua a todo vapor, com suas noites de terrores diárias. Cheguei a pensar que tudo e todos só exerciam uma única função quando no centro de meu campo de visão, me divertir, me entristecer, assim, como peça de teatro... Eu vi tudo e todos como personagens de uma tétrica peça de teatro de absurdo, como personagens que vagavam em meio a um palco de concreto visivelmente projetado para o afunilamento das espécies, com pequenos declives para aqueles que não possuem influências sobre os demais... Os invisíveis escorrem como sangue por esses pequenos declives para o depósito dos reprovados do controle de qualidade. E com isso nossos dias permanecem assim... Azuis... Mas o meu filosofar se torna persuasivo e parcial quando saído de minhas cicatrizes... que latejam... Bem, sobre as coisas que vi... deixe pra lá... Gostaria mesmo de um dia dizer sobre coisas que ainda não vi...

Photo by Rafael Martins

Coisas felizes:

Meus dois texto que já terminei... "Cubos de gelo no asfalto" e "Game Over", que provavelmente irá se tornar um roteiro de cinema... E "Decadente", o filme, direção: Vitor Dourado, segue abaixo alguns momentos;

Eu.

Carolina Angrisane, Aldine Müller e eu.
Eu e Deborah Gaiotto.

Eu, Carol e Marina.

(Que eu sempre trabalhe com grandes profissionais comos esses, Amém)

Alguns posts antigos...


24/02/2008

Nada a declarar!!!!!!!


21/01/2008

Não tenho medo de expor os meus medos... Por mais patético que sejam, eles estão aqui. Mas um eu deixei preso entre as ferragens da semana passada. Eu, parado diante dela, e ela ali, me fazendo chorar, tremer e como que de costume me fazendo pequeno. Fiquei aproximadamente umas três horas olhando pra ela. A montanha russa... Pode parecer patético para os demais, mas quem me conhece pelo menos um pouco, sabe o quanto tenho medo de altura. Nem na janela do meu próprio apartamento eu fico por mais de um minuto... Com a boca seca e o coração acelerado fui até a fila do brinquedo, mas não por vontade própria, estava sendo empurrado por um grande amigo meu, me sentei dentre as claustrofóbicas cadeiras, no meio, e fechei os olhos, quando vi que o brinquedo se movimentava não hesitei em abri-los e gritar minha desistência para a mulher que o operava. Voltei para minha posição inicial, duas horas mais tarde, estava lá outra vez, só que agora por vontade própria, entrei no brinquedo e fechei os olhos, quando o carrinho começou a interminável subida, meu coração acelerou o dobro da primeira vez, e desta vez não era somente a boca que estava seca, mas todo meu interior... Com os olhos fechados e também secos, comecei a chorar de uma forma jamais vista por mim, sem som, e com pequenas contrações musculares... Quando finalmente o carrinho parou foi que todos os meus órgãos, como que em um reanimar, voltaram a funcionar. Abri os olhos e sai dali com a sensação de que nada poderia me deter... Depois da quinta vez que andei na montanha russa, abri os olhos, e pude ver finalmente do que se tratava aquele frio na barriga... Andei aproximadamente umas 25 vezes, em todas as poltronas, do primeiro ao último carro... Em casa, parei pra pensar que talvez o medo só existisse realmente para ser superado... E pelo menos um deles consegui deixar pra trás... Agora só falta superar o medo de gafanhoto, de ficar sozinho...




07/01/2008

Está tudo bem agora... Ela já morreu!

Eu gosto de ver o tempo passar... Não, não gosto... ?
Gosto de ver tudo se modificando ao meu redor... Não, não gosto... ?
Pois de que serve uma roda gigante parada? Ontem não consegui dormir direito com medo de uma mariposa que estava na parede do quarto... Provavelmente ela estava parada, porque eu também estava parado, olhando com os olhos estalados, estáticos, com medo de que ela com um vôo rasante me atacasse como um kamikaze agnótico. Desejei com todas as forças que ela morresse... Hoje acordo, e ela ainda está imóvel, só que agora no chão... Sem vida... Na verdade eu não queria que ela morresse... Queria apenas que ela tivesse o minimo de bom senso e fosse embora... Sei lá... Ela se foi, e eu continuo aqui esperando mais uma mariposa, um gafanhoto, uma barata, ou qualquer outra coisa que me faça sentir vivo... Sabe do que gosto mesmo? Que as coisas se vão para dar espaço a outras que vem... Ou será que esse é o meu medo? Ah... Deixa pra lá... Já passou! ?
Que venham novas coisas, que venham! ?



29/12/2007



Ela estava deitada na cama enquanto ele procurava por algo que não sabia, revirou gavetas, copos, geladeira... A cada minuto que passava o silêncio se espalhava pelo ar... Parado, o ar estava parado, o suor saia lentamente dos microscópicos orifícios da derme.
Ela deitada na cama e ele procurando algo que não sabia o que era... Ela se levantou e começou a andar pelo teto... Procurava no tampo de madeira compensada... As cores acinzentadas do quarto se confundiam com os pés da pequena que agora corria em círculos pelo teto... Seus dedos trêmulos corriam os potes de margarina embolorada... Sem pensar muito enfiou o braço esquerdo garganta a baixo e retirou um pedaço de vidro... Tossindo começou a soltar pequenos pedaços de espelhos pela boca, olhou para seu vômito e começou a se enxergar... Entre detritos de alimentos ele se enxergou... Ela para de correr pelo teto e senta-se ao lado do ventilador de teto que está com uma das hélices quebrada... Ele começa a soltar pedaços de si mesmo... Ela começa a rir ironicamente enquanto a hélice quebrada bate em seu calcanhar esquerdo... Sangra, ela ri ainda mais... Tudo começou errado... Acho que a culpa é sua... É... Eu também acho que a culpa é sua... Acho que você deveria melhorar... É, eu também acho que você deveria melhorar... Ele começa a chicotear a pequena... Ela chora de pena de si mesma... Agora me chicoteia... Sim... Ele começa a chorar de pena de si mesmo... Você às vezes é um saco... É, você também às vezes é um saco... Pare de repetir o que digo... Você também pare de repetir o que digo... Você não sabe do que preciso... Você... Também não sabe do que preciso... Você me questiona demais... Você me questiona demais... Deixe-me em paz... Continue o que estava fazendo... Está bem, só se você prometer que vai continuar também... Vamos... O que? Como das outras vezes... Fingir que está tudo bem? Não... Fingir que está tudo bem...


22/12/2007

"A filosofia de um século é o bom senso do próximo"
Quem disse essa besteira?



18/12/2007

Malditos elefantes...



Oi...
Oi amor...
Tudo bem?
Sim...
Está tudo bem comigo também...
Você está tão bonita hoje...
Obrigada...
Você me ama? Quero dizer, me ama um pouco?
Sim... Claro que eu te amo... Quero dizer, pelo menos um pouco... Mas por que quer saber?
Por nada...
Fala...
Por nada...
Eu te amo muito...
Silêncio.
Onde você estava ontem à noite?
Eu já disse que te amo...
Então me responde...
Eu te amo muito amor...
Onde?
Eu?
Estava?
Te amo...
Onde você estava? Porra!
Eu... Bem, fui atacada por uma manada de elefantes azuis que circulavam pela avenida Paulista, devem ter sido deixados pelos marcianos de que lhe falei na semana passada...
Na avenida Paulista? Elefantes... Marcianos...
Sim... (Começa a chorar)
Acho que você precisa se tratar...
Não acredita em mim? Sabia...Você não me ama mais...



15/12/2007

Estamos presos... Sempre presos...

Como afirmar? Deixo minhas inúteis exclamações de lado, para perguntar a todos que quiserem responder... Liberdade... Você pode me responder o que é a liberdade? Você pode me responder o que é a vida, a fé, a política, ou algo mais concreto, embora isento de exclamações, o que diziam os filósofos? O que afirmavam eles? Uma obra de arte só existe para que a enxerguem de maneiras diferentes, questionando algo, ou alguém. Ao contrário não seria arte, e sim um objeto de vaidade, nado-morto, apático. De que serve um filósofo que se diz certo em suas teorias? Que as exclamações sejam contestadoras. De que servem suas exclamações copiadas de idéias já pensadas e às vezes abandonadas pelo mesmo que as idealizou? De que servem? De que servem suas conclusões escusáveis? Você pode me explicar? A arte determinista nada mais do que um objeto decorativo em casa de burguês... Toda obra se modifica de acordo com os olhos que a vêem... Ou não? Toda obra deve se modificar de acordo com o tempo, espaço e acima de tudo sobre as questões em que vivemos agora... O porque continuar questionando ícones mortos? Ideais mumificados? Que se modifiquem as obras. Você pode me explicar o mundo em que vivo? Você pode me explicar? Acho acima de tudo que é isso que querem, enquanto comem nossos olhos, estamos voltados para o passado... Tudo se torna inútil para o indivíduo que está estupidamente se perguntando ainda se devemos ou não inventar a roda... Ou não?



11/12/2007

Ontem, 10/12/2007, foi dia Internacional dos direitos humanos, só me resta perguntar;

De quais?

Hoje foi dia de quê?

De cão?


Luciano Amarante/Folha Imagem

Moradores da favela Real Parque invadem pista local da Marginal Pinheiros em protesto contra a reintegração de posse no local, causando congestionamento na via


Constituição da República Federativa do Brasil.

Preâmbulo


Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL



Capítulo II

Dos Direitos Sociais

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.


http://www6.senado.gov.br/con1988/CON1988_31.12.2003/CON1988.htm

08/12/2007

A função do ator é saber fazer crer que uma caneta é uma guitarra...

Hoje apresentamos Roxo na sala dois do Teatro Fábrica. Tudo foi diferente, perspectiva diferente, cinco pessoas em um camarim improvisado de um por um. Outra peça, até que podia se chamar “Claustrofobia do Rock”. Mas foi legal, mesmo o baixo não funcionando, foi legal, legal não, foi do caralho! Todos ali na maior boa vontade, um público difícil, adolescentes superativos que reagiam a cada gesto com gritos e interações. Todo mundo segurou muito bem, a Júlia, eu e os caras. Estavamos praticamente sem nada, mas literalmente com tudo.





06/12/2007

Hoje tem "ROXO" no Fábrica!


04/12/2007


O velhote hoje está na rua.
Abandonou mulher e filhos para sambar aos pés da sétima maravilha do mundo.
Hoje vive perambulando pelas calçadas brasileiras.
Vive do INSS, que raramente devido à bebida se lembra de buscá-lo.
Só não aprendeu a sambar...
Mas aprendeu com os brasileiros a ter esperança por dias melhores e a obrigação de estar sempre sorrindo...




Últimos dias.


“Roxo” de Jon Fosse.
Sábados às 20:30 hs. e domingos às 20:00 hs. no Satyros I





“Os 120 dias de Sodoma”, de Marquês de Sade.
Sábados e domingos às 20:30 hs. no Satyros II


02/12/2007


Inutilidades minhas...


Hoje começo meu texto com uma frase de Oscar Wilde, “No momento em que um artista descobre o que as pessoas querem e procura atender a demanda, ele deixa de ser um artista e torna-se um artesão maçante ou divertido, um negociante honesto ou desonesto. Perde o direito de ser considerado artista”.

Vendo uma crítica da revista “Bacante” por Maurício Alcântara sobre o espetáculo “Les Éphémères” da CIA. Francesa “Théâtre du Soleil”, do qual tive a honra de assistir no mês passado, e sair com as mesmas sensações do crítico de que a pouco falei, uma pergunta me veio à mente quando li em sua crítica a comparação entre a grande CIA. Francesa e alguns “mitos do teatro brasileiro”.
Até que ponto o artista conserva sua essência, sua arte, sem se vender a um público ou patrocinador, para simplesmente dizer o que o povo quer ouvir?

As questões sempre ficam nas entrelinhas de um texto quase sempre inútil e provisório.

Como um dia disse Arrabal, “Não existe progresso no teatro; se existisse seríamos melhores do que Shakespeare”, embora os seus textos muitas vezes me soam de uma forma maçante, devido às muitas montagens mal interpretadas que vi nesses últimos anos, tenho de admitir sua grande genialidade, e tenho acima de tudo de concordar com o grande autor espanhol em dizer que o teatro está parado, e tomo a liberdade de acrescentar ainda que além de parado, o teatro se encontra calado em se tratando de suas verdadeiras funções sociais.
Eu encaro o teatro como um trabalho, não como hobby. Mas sei ser auto-crítico o suficiente para entender quando exerço meu oficio de uma forma inútil, porém necessária fisiologicamente, mesmo que triste seja essa realidade. E você?
E para finalizar esse divagar também inútil, deixo aqui uma frase do grande Felline, frase esta que sempre me persegue e me atormenta... “Você existe apenas naquilo que faz.” ... onde você está existindo hoje?

29/11/2007

As palavras me traem constantemente.
O meu corpo me trai constantemente.
Meu intelecto me trai constantemente.
Por isso, nada resta de mim em meu ser, somente os olhos.
Só os olhos falam o que a dialética esconde...

23/11/2007

Eu quero a vida em preto e branco, e não com essas cores primárias que a determinam...


19/11/2007

O cheiro do cravo...

A luz néon tomava conta do pequeno espaço, fazendo dos corpos pequenos borrões esbranquiçados em meio à tela escura da pequena boate de beira estrada. A música era alta, o que fazia com que as vozes sumissem, acho que propositalmente, pois os interesses se tornavam desde a entrada cada vez mais físico, somente físicos. O porque abrir a boca e estragar a mágica que tomava conta do pequeno e úmido espaço negro? Sentei-me em um pequeno sofá de dois lugares, mas que eram ocupados por três garotas e um vira-lata. Insaciáveis, pareciam insaciáveis, mas é lógico que ao chegar mais perto, via-se em seus olhos o desespero e a esperança de que ali, sentasse-se um homem, ou melhor, um príncipe que as levasse para um mundo onde não existisse néon e nem música alta, só um mundo de silêncio... No canto, estava ela, quase sumindo, não fosse pelo seu sorriso que tomava conta do lugar e assim fazia dele um lugar quase santificado. Uma santa com olhos lascivos e sorriso ingênuo formando uma mistura de Kahlo e Bosch em um enredo sadeano. Aproximei-me de uma forma brusca, e embalado ao velho tango de Gardel a arrastei para o centro daquele mundo... O cheiro de cravo saia de sua garganta como que fogo, me ardendo os olhos e a alma. Dançamos quase que a noite inteira... Quando amanheceu, e a luz adentrou pelas frestas do telhado danificado, pude notar que a santa era incompleta, não tinha os braços, mas que seu sorriso era realmente inesquecível. Como pude dançar a noite inteira com uma mulher, sem notar a falta dos seus braços? Nesse momento não tive dúvidas de que ela era a mulher da minha vida... Passaram-se anos até que me perguntasse o porque a escolhi em meio a mulheres perfeitas... Eu olhei em seus olhos aguados e disse. Porque você é linda...


14/11/2007


ARTHUR RIMBAUD


“ Insuportável é saber que nada é insuportável ”

Do blog do Chico Ribas


07/11/2007

Deve ser lua cheia...

Engraçado, hoje acordei com uma puta disposição...
Muita coisa boa, amigos, projetos, família, sol, coristina, Samira, limpar a casa (bem suja por sinal), aula de francês, punheta...
Será que eu tive um sonho bom?
Só sei que tenho que começar agora...



05/11/2007

Perfumes, cigarro, bebida e fritura.

Ela quase sempre chegava com cuidado, sem fazer barulho na porta para não me acordar, mas quase sempre era inútil, já estava acordado. Ficava deitado na cama esperando que me abraçasse para que enfim pudesse dormir sossegado. Seu cheiro era dos mais variados, perfumes, cigarro, bebida e fritura, as vezes bala de fruta, só às vezes. Tirava o salto para não fazer barulho, e na ponta dos pés ia saltitando de maneira quase engraçada até o banheiro, lavava o rosto, tirava a maquilagem pesada, usava creme anti-ruga, e se maquilava novamente, só que agora mais leve. Era aconchegante quando me acalentava com seus braços. O cheiro de cigarro, bebida, creme anti-ruga, fritura e às vezes bala de fruta logo tomava conta do quarto, e eu fingia dormir, enquanto ela chorava em silêncio. Eu esperava ela dormir, para entrelaçar meus dedos em seus cabelos negros e macios, embora engordurados. Ficava horas acariciando seus cabelos, e meus olhos estalados e secos quase não se moviam diante às imagens subliminares da marca embolorada do teto, homens, mulheres, monstros, cachorros e latidos. O silêncio tomava conta do pequeno quarto úmido, e às vezes não conseguindo dormir, fechava os olhos para aguçar os ouvidos e os sintonizava com músicas e sons imaginários... Então eu dormia com a esperança de acordar e talvez continuar sentindo o cheiro de perfume, cigarro, bebida, fritura e se eu desse sorte, laranja...

Crônicas de uma vida imaginária..

01/11/2007



Senhor Prefeito:

Está dando pra notar a diferença visual da cidade, desde que nosso magnífico prefeito, implantou o projeto cidade limpa. Já podemos enfim, passear com nossos amáveis cachorrinhos penteados pelas calçadas. Já não precisamos mais desviar daqueles animais imundos e sem o mínimo de civilidade. Obrigado senhor prefeito por trazer o mínimo de conforto para nós, pessoas honestas e trabalhadoras. Se conseguir um tempinho, passa aqui em casa para jantarmos juntos, eu, você e meu marido, que humildemente agradece sua preocupação para conosco, pessoas de bens.
Ontem eu soube por algumas vizinhas, que queimaram mais dois mendigos, eu ainda acho pouco. Peço-lhe humildemente um forno crematório como o de Auschwitz aqui para região central. Pois poupariamos tempo se queimássemos em massa, ao invés de um a um. A propósito, ontem vi seus oficiais executarem o serviço lindamente, limparam minha calçada como no tempo do grande ditador, que Deus o tenha.
Afinal, o que seria de nós sem almas boas e compulsivas por limpeza como a do senhor.

Sem mais, expeço meu humilde agradecimento.



QUEM SE DEFENDE
Quem se defende porque lhe tiram o ar Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo Que diz: ele agiu em legitima defesa. Mas O mesmo parágrafo silencia Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão. E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre Não lhe é permitido se defender

Bertold Brecht

30/10/2007

Ser ou não ser?


Eu me lembro de um dia que me perguntaram pós saber que eu era ator, se eu gostaria de ser uma estrela. Sim, eu respondi com um sorriso...
Se me perguntassem hoje, eu diria não, já existem estrelas em demasia, eu prefiro ser o pequeno espaço negro que ainda resta...



29/10/2007



Um relógio que não para.
Um sino tocando em um tom menor devido à chuva espessa.
O escuro tomando conta da noite, de repente Clara...
Surge assim uma luz multicor em meio à noite escura...
Pra Clarear os olhos que já não enxergam cores.
Surge assim cheirando à rosa, a raridade de uma orquídea.


24/10/2007


As melhores coisas estão escondidas no submundo, sob o palco, sob as palmas grandiosas de uma platéia sem critério. Junto com os ratos, estão os artistas, comendo as migalhas desse banquete repugnante chamado Brasil, do qual, apenas são convidados aqueles que são caníbais... Mas que um dia comeram com os ratos, embora digam não se lembrar...


16/10/2007



Abro a janela cinza do meu apartamento cinza, o dia também está cinza... De frente para o meu apartamento cinza, existe um prédio cinza claro que se confunde com o cinza também claro do céu. Na sacada, uma planta morta de coloração já cinza... Porra... Esse prefeito tirou a única coisa verde da minha vista. O outdor era legal... É... Eu acho... Não... Era legal.


A arte fast-food.


Nos últimos meses tenho ido freqüentemente ao teatro, e na grande maioria das vezes, por indicações equivocadas. Não tenho me surpreendido muito, porém pensado. Será que por tédio? Parece-me que a “bagunça” cênica, hoje se tornou moda, e não um descuido imprevisto, e quando me refiro a descuido, me refiro de uma maneira extremamente pejorativa. Os últimos espetáculos, ou melhor, peças, tem tido um caráter determinista, que por sua vez causa o distanciamento da grande maioria. Eu quero mais. Não quero mais sair de um espetáculo com a sensação de que fomos enganados, iludidos por um apogeu dramático de questões superficiais e provisórias. Quero sair do avesso, quero me questionar, quero que essas questões não sejam provisórias, e sim etéreas e dialéticas. Estamos passando por um momento superficial no teatro brasileiro, inerte, onde ainda a influência já ultrapassada dos europeus é copiada de uma maneira inconseqüente. O medo de ousar, ou a comercialização da arte com sua exigência em ter um produto rápido e industrializado, talvez seja a grande causadora desse comodismo por parte dos artistas, que tem por sua vez não somente a obrigação de divertir, mas de questionar. Que o questionamento não fique para segundo plano, que não fique oculto atrás de piadinhas levianas, ou escondido atrás da tão estúpida e aclamada bunda brasileira. Que o artista não seja resumido a um pedaço de papel putrefacto na parede. E que o teatro não seja a causa da ignorância e preguiça intelectual de nosso povo.
A arte vem sendo tratada como um fast-food, onde escolhemos pelo número, o produto nunca é o da imagem e muitas vezes nos fazem mal.

11/09/2007

Mais um dia no escuro...



O interfone toca.
Quem é?
Eletropaulo.
Ah...
Silêncio.
E aí...
Você veio cortar a energia?
É...
Corta aí...
Falow...

07/09/2007

O Sol quente faz coagular os fatos...


Ouvi dois disparos na madrugada de terça-feira. Rua Rego Freitas, uma das mais movimentadas, tida como ponto para aqueles que buscam satisfazer suas mais secretas fantasias com transexuais, algumas belíssimas, outras apenas. Pensei que talvez os disparos fossem apenas explosões corriqueiras de motocicletas barulhentas que circulam a área, causando gritos e alvoroço entre elas... Não era, pensei, elas não gritaram. Abri a janela do meu apartamento e vi, ela, deitada, acho que ainda tinha alguns espasmos musculares. A poça de sangue em sua cabeça crescia tanto quanto o esvaziamento local, o que minutos antes estava repleto de risadas pseudo feminina, agora estava parada, sem som mesmo, sem um único ruído. Quando finalmente seu corpo deixou os espasmos musculares, alguns começaram a se aproximar, apenas alguns. Seu corpo já sem vida era o centro da curiosidade instintiva do mais íntimo do ser. Alguns se perguntam; Como será, morrer? Seus olhos fitam detalhadamente a inércia e a vida que se dissolve na suja calçada, deixando a coloração gasta para ter um vermelho vivo. Alguns carros de polícia chegam. Os curiosos se aglomeram em volta do corpo. Alguns se cumprimentam, outros ficam estáticos, outros riem e outros apenas aproveitam a aglomeração para vender suas bijuterias. Algumas crianças sujas se aproximam do corpo e o cutucam com o pé. Depois de alguns minutos a ambulância chega, e de uma maneira fria eles se cumprimentam com apertos de mão e alguns sorrisos. Pouco a pouco as meninas vão ocupando seus postos, enfim, o trabalho tem que continuar. A ambulância sai escandalosamente com o corpo. Tudo volta ao normal, e a única coisa que prova a existência do fato, é a poça de sangue coagulado que ficou, e provavelmente ficará lá... No dia seguinte quando abro a janela, o sol está forte, tudo continua como sempre, algumas pessoas correm atrasadas e nem notam a marca da noite anterior, outras olham tentando imaginar o ocorrido, e outras, apenas passam por cima...



16/07/2007

Súplica de quem faz macarrão com queijo todos os domingos...

Por favor! Senhor prefeito...
Construa uma nova praça.
Ou melhor, um estacionamento...
Sim, seria ideal.
Pra varrer esse lixo andante.
O lixo que come, que anda e que se vende...
Onde foi parar a antiga moral?
Não suporto sentir esse cheiro.
Que invade minha casa.
Ai meu Deus!
Haja Veja...
Haja...



16/07/2007


Reencontro.


Ele: Delícia!
Ela: Vai! Vai!
Ele: Eu...
Ela: O que?
Ele: O que o quê?
Ela: O que você ia dizer?
Ele: Como assim?
Ela: Você disse. Eu...
Ele: Você o que?
Ela: Não eu, você!
Ele: O que tem eu?
Ela: Nada!
Ele: Fala vai!
Ela: Não!
Ele: Foda-se!
Ela: Foda-se você!
Ele: Maldita hora que eu te encontrei!
Ela: Agora me lembro o motivo...
Ele: Que motivo?
Ela: Que me fez te deixar, panaca!
Ele: Haha! Quem te deixou fui eu!
Ela: Quem disse?
Ele: Quem disse o que?
Ela: Que porra!
Ele: Fica de costas agora...
Ela: Vem...







08/07/2007

Eu também cheiro mal.

Ela, pequenininha e com seus olhinhos aguados se aproxima e diz:
- Eu às vezes fico bem tiste...
- Por quê? Porque uma menina linda como você ficaria triste?
- Porque eu não tenho amigos...
- E porque você não tem amigos?
- Por causa do meu ouvido...
- O que tem o seu ouvido?
- Às vezes ele vaza e cheila mal, eles nem chegam perto de mim, não querem bincar comigo, por causa do meu cheilo... (pausa).
(Ela terá de esperar por ordens médicas até os doze anos para resolver o problema).
- Eles também cheiram mal... Eu também cheiro mal. Só que escondemos o mau cheiro com perfume... Por exemplo, eu... Também me perfumo sempre, e mesmo assim ninguém quer brincar comigo... As pessoas escondem seus fedores... (pausa) Sabe de uma coisa... Eu prefiro sentir o cheiro ruim do seu ouvidinho, do que sentir o cheiro de podre de algumas almas. Um dia você vai entender.
(Ela continuou chorando)




05/07/2007

Cânticos dos cândidos...


... Estou aqui, sem nenhuma pretensão de sair daqui ou algo parecido. Sei que estou velho, e meu corpo cansado já não procura mais forças para levantar. Não consigo me afastar do meu passado. Não consigo... As pessoas me alimentam para que eu continue a ser sóbrio e possa repensar a minha própria história. Querem que eu me orgulhe. Gritam a minha candura... Minhas rugas limparam meu rosto. Vejo a pena com que me fitam, vejo seus olhares gritando a minha passividade e vejo acima de tudo, seus olhos, que camuflam um rancoroso sentimento de justiça. Como poderemos falar de justiça? (ri) Sabemos que esse pseudo movimento universal, não existe aqui. Mas podemos simplesmente continuar brincando de faz de conta, esperançosos... Juro que pensei nas muitas bocas que roubei... Nas crianças sem perspectiva... Nos velhos sem dentes e suas poucas digestões... Mas logo essa minha queda moral era tapada pelo meu sentimento mais nobre, o poder... Enfim o que seria de um rei sem súditos, ou de um homem sem mulheres... Acredito sim na espiritualidade, acredito que ela tem o poder de encaixar todas as peças desse quebra-cabeça, só que algumas sempre serão adornos, e outras, os adornados... (acende um cigarro) Não consigo me arrepender de nada, ou melhor, de tudo... As pessoas me alimentam para que eu continue a ser sóbrio e possa repensar a minha própria história... Enfim o que seria de um rei sem súditos, ou de um homem sem mulheres... Se eu não tivesse sido egoísta, quem limparia meu rabo hoje? Quem me masturbaria? Um conselho amigo... (traga o cigarro) Roube tudo dos pobres, mas tenha o calculado cuidado de não esbarrar em seu orgulho... O resto... O resto deixe por conta do dinheiro, ou melhor, da justiça dos homens...



03/07/2007

Enquanto isso...



Ele estava deitado no carpete mofado da sala, enquanto ela sentada no sofá também da sala com seu espelho pequeno de moldura plástica e azul, administrava seus nove cremes capilares. Ele olhava para o teto, divagando do chão ao teto seus pensamentos iam longe e voltavam como que míssil teleguiado para dentro do pequeno espelho de moldura plástica e azul. Ao mudar do creme número cinco para o número seis, ela parou por uns momentos, ele também parou... Ambos quase se olharam... Ela quase que olhou para ele de forma quase que convidativa. Ele quase que olhou para ela de maneira quase animal. Ele retornou a divagação e ela continuou a emaranhar seus dedos encharcados do creme número seis nos cabelos lambuzados dos cremes de número um, dois, três, quatro, cinco e seis... Ele queria ser animal predador, enquanto ela queria ser preza... Eles quase se olham... Eles quase se mordem... Ela continuou com o seis, sete, oito e nove. Ele foi do nove ao Hummm... Ela com as mão lambuzadas e... Ele também lambuzado... Ela vai para o quarto e se deita... Ele vai para o quarto e se deita... Ela estica devagar o braço tremulo para fora do cobertor até o interruptor, apaga a luz e dorme... Ele também dorme...




10/06/2007

Pontinha de vida


Eu estava parado olhando para o nada quando senti uma mãozinha suja me pegando pelas pernas, deixando assim a marca de sua imundice em minha calça semi-nova. – Tiuo... Me compra um pastel? – ele perguntou com seus olhinhos de fome – Pensei por um momento, e sentindo uma pontinha de prazer em deixá-lo esperando por uns instantes, respondi com certa indiferença. – N... Não! – Ele se afastou uns dois metros de mim, sentou-se num banco da praça e com a cabeça entre as pernas começou a chorar. Arrependido fui até o balcão e pedi o pastel mais caro. Aproximei-me do menino que estava aos prantos, era um choro sem força, sem som, pra dentro... – Olha o que o tio comprou pra você! - Eu disse-lhe com uma pontinha de satisfação, arrependimento e... – N... Não quero mais essa bosta! – Ele disse me fitando com seus olhinhos aguados, orgulhosos e com uma... Com uma pontinha de vida...



15/05/2007




...como um dia disse Cecília...

"Somos bem menores do que achamos que somos"





24/04/2007

FOLHA DE SÃO PAULO
Crítica/teatro/"Roxo"


Fernanda D´Umbra expõe a adolescência sem floreios
Peça com texto de Jon Fosse conta a história de garoto que larga sua banda


Roberto Sousa/Divulgação


Júlia e Fabiano de Souza Ramos em cena de "Roxo"SÉRGIO SALVIA COELHO CRÍTICO DA FOLHA

Adolescência é algo que a publicidade vende como sendo um paraíso sempre à disposição, e, estranho, os consumidores acreditam. Esquecem que é o momento em que a infância se desmistifica e o mundo adulto surge como pouquíssimo confiável, e que viver nesse vão é uma angústia alucinante: a adolescência é uma droga. Para falar dela, é preciso ficar perto da essência, sem sucumbir à idealização nem à farsa. Tarefa para Jon Fosse, o dramaturgo contemporâneo norueguês (da peça "Roxo", em cartaz na cidade) que, de tempos em tempos, burla a prudência dos produtores e vem parar como um tijolo nos palcos nacionais. Foi assim três anos atrás, com "O Nome", no Núcleo Experimental do Sesi, dirigido por Denise Weinberg, quando Fernanda D'Umbra se apaixonou pelo estilo do autor, a ponto de produzir do próprio bolso este "Roxo". RockNa trama simples, um garoto, entre a morte da avó que o criava e a eminente iniciação sexual com uma ambígua groupie de sua banda em formação, decide desertar de tudo. Nenhuma grande ação a ser empreitada: apenas permanecer no porão escuro, trancado pelos colegas abandonados, em brincadeira cruel. Nenhum abandono sério também: o grupo tocava mal, com cada componente tentando tirar de seu instrumento um balbucio que justificasse o tédio da existência. Uma quase história de amor, uma quase tragédia, agridoce como as lembranças comuns dessa época. Com Fosse, D'Umbra está em casa: os diálogos rarefeitos, com pausas eloqüentes e repetições hipnóticas como nos solos de rock, são o pão cotidiano do Cemitério dos Automóveis. Casa também do dramaturgo-músico Mário Bortolotto, que fez uma trilha a contrapelo para esse espetáculo, só de sobras de takes de gravação, guitarras à deriva, bateria amnésica, pontuando um texto de costuras para servir à precisão cirúrgica da direção. Fernanda D"Umbra mantém o pulso sem tolher a espontaneidade de seu jovem elenco, que enfrenta sem medo uma partitura difícil, revelando a inexperiência em algumas falas que soam decoradas, mas já dando provas de carisma. Aliado importantíssimo, Celso Melez faz uma luz sofisticada com recursos limitados, criando um clima mágico e tenebroso, como se a vida fosse de sombra. Sem floreios, mas com grande fé no taco, "Roxo" é imperdível. Desses 50 minutos compartilhados em um porão gelado, muito poderá surgir.




15/04/2007


Escorpiões à paisana.

'Por favor!
Falem-me do céu.
Que por mais que os grandes e gigantes o cubram.
Eu sei que existe...
Falem-me de flores...
Não as vendidas, as nascidas.
Falem-me dos sorrisos pós lágrimas...
Falem-me dos sonhos.
Falem-me um pouco sobre a felicidade.
Falem-me das barrigas cheias.
Falem-me dos papos de amigos.
Falem-me da chuva com sol.
Falem-me das cores que existem.
Falem-me de doenças curadas.
Falem-me de longas gargalhadas.
Falem-me de seres humanos.
Falem-me algo que esteja alem dos seus próprios rabos.
Falem-me de amores que deram certo.
Falem-me do céu de cima pra baixo não de baixo pra cima.
Falem-me surpresas.
Falem-me da vida.
Falem-me de vida.
Falem-me vida.
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem-me...
Falem -me...
Falem -me...
Falem -me...
Falem - me...



14/04/2007


Dores...

Às vezes quando ficamos parados, só parados...
Sentimos o corpo doer.
Uma dor que às vezes faz sentirmos cansaço, outras, vivos.
Uma dor constante, que nunca passou desde que nascemos.
Apenas nos acostumamos com ela.
Apenas nos acostumamos.
Mas essa dor um dia se mostra, quando paramos de pensar.
Daí o peso do corpo desaba sobre nossa alma.
Fazendo-nos perceber que ela está não novamente presente, mas, constante, apenas não se foi e talvez nunca se vá.
Sempre esteve ali.
Nosso corpo cansado e dolorido desde o primeiro respiro.
Essa dor que suportamos muitas vezes porque nos acostumamos, outras apenas porque não paramos, só não paramos...
Daí você percebe que essa dor só é suportada por nós, para vivermos momentos como esse...


São esses momentos que nos dão motivos para suporta-las...
E esquece-las...



02/04/2007

A REVOLTA DOS BRINQUEDOS
TODO SÁBADO ÀS 15:30
NO TEATRO DO ATOR
PRAÇA ROOSEVELT






23/03/2007

Ninguém sabe, ninguém viu...


Engraçado como todos calaram diante as claras críticas da peça “Os 120 dias de Sodoma”, encenada no Satyros no ano anterior.
Ao mesmo tempo que a omissão crítica, nos entristecia, tudo se tornava cada vez mais real e esperado, pois não podemos nos esquecer de que estamos no Brasil, lugar onde se gasta 2 Bilhões para os jogos Panamericanos e com muito custo 5 Milhões para construir escolas, enaltecemos coisas banais e nos esquecemos do que realmente poderia estar modificando algo. Lembro-me claramente do dia em que nosso diretor Garcia Vasquez nos disse em outras palavras: - Devemos estar preparados para qualquer manifestação, pois estamos falando de coisas sérias e diretas, que envolve a podridão do nosso país (Política). E admito que nos preparamos para elas, mas não para a omissão de muitos que poderiam ter se manifestado. Enfim, de que serve uma manifestação reivindicare sem a lente de aumento da mídia? Me refiro a peça como uma manifestação, pois visavamos alcançar um questionamento do povo que se encontrava em tempos de inércia e passividade, o "demócio". Mas como já era de se esperar, muitos se calaram, por isso, queriamos que acima da crítica, o teatro estivesse repleto de simples cidadãos, pois não só falávamos friamente das grandes corrupções, mas dessa política que devasta a nossa terra, a política "fantochista" de hoje de ontem e de sempre, e também dos corriqueiros e pequenos deslizes do dia a dia à corrupção; piratarias, notas alteradas, pequenos poderes, suborno ao guarda rodoviário, pequenas vantagens, pequenos cargos, pequenos apoios, etc. Pequenas corrupções que passam despercebidas, quando providas de alguém que está entre a suposta “burguesia”. O porquê da omissão? Rebaixamento de cargo? O fim de pequenas propinas ou pequenas vantagens? Ou só desinteresse pelo tema?
Realmente isso se tornou uma informação incógnita.
A peça era um grande distanciamento físico, para uma certeira identificação em massa... Nós estamos no meio dessa salada verde e amarela, só que sempre negamos uma pimenta que cause alteração, pois nunca esquecemos de que o próximo cú a entrar na reta pode...
Porém não podemos nos esquecer de pessoas que corajosamente falaram, escreveram e não exitaram em a apimentar, ou ainda o fazem.
Para os mesmos expeço minhas reais ovações...

Não sei o motivo do esquecimento, mas esses trechos do texto de Etienne de La Boétie (Discurso da Servidão Voluntária) ,me respondem ou pelo menos aguçam minha imaginação.

“Não são as armas que defendem um tirano (inicialmente, haverá alguma dificuldade em acreditar nisso, embora seja pura verdade), mas sempre quatro ou cinco homens que o apóiam e que para ele sujeitam o país inteiro. Sempre foi assim: cinco ou seis obtiveram o ouvido do tirano e por si mesmos dele se aproximaram ou, então, por ele foram chamados para serem os cúmplices de suas crueldades, os companheiros de seus prazeres, os complacentes para com suas volúpias sujas e os sócios de suas rapinas. Tão bem esses seis domam seu chefe que este se torna mal para com a sociedade, não só com suas próprias maldades, mas também com as deles. Esses seis têm seiscentos que debaixo deles domam e corrompem, como corromperam o tirano. Esses seiscentos mantêm sob sua dependência seis mil. E quem quiser seguir o rastro não verá os seis mil, mas cem mil, milhões que por essa via se agarram ao tirano, formando uma corrente ininterrupta que sobe até ele”.

"Pai, afasta de mim esse Cale-se!" (Chico Buarque de Holanda)

Vai aqui uma apimentada...por Nelson de Sá e Lenise Pinheiro
http://cacilda.folha.blog.uol.com



19/03/2007


ROXO


de Jon Fosse



com
Fabiano de Souza Ramos (O Cara)
Julia Novaes (A Garota)
Didio Perini (O Baterista)
Thiago Pinheiro (O Vocalista)
Henrique Mello (O Baixista)
Direção: Fernanda D´Umbra
Tradução: Alexandre Tenório
Direção: Musical Maurício Maas (Macalé)
Cenário: The Strummers Produções Cenográficas
Cenotécnica: Fabiano de Souza Ramos
Sonoplastia: Mário Bortolotto
Iluminação : Celso Melez
Figurino : Chris Couto
Cabelo e Maquiagem : Helaine Garcia
Ilustração: Caco Galhardo
Operação Técnica: Alessandro Bartel
Projeto Gráfico: Caio Bars
Fotos : Roberto Sousa
Produção :D´Umbra & The Strummers


ESPAÇO DOS SATYROS
Praça Roosevelt, 214
Tel. 3258.6345
Sábado – 21h
Domingo – 20h
De 17 de março a 27 de maio 2007



14/03/2007

SABADÃO, ESTRÉIA NO SATYROS I...



ÀS 21:00 H.


ROXO

De Jon Fosse, que disse uma vez:
“Quando eu era pequeno tocava música, guitarra... aos onze anos tocava durante seis ou sete horas seguidas. De um dia para o outro, parei. Acabou-se a guitarra. E comecei a escrever. O que me pareceu ser uma coisa mais séria... mas comecei a escrever tentando fazer uma espécie de música... poucas palavras, repetições, variações, silêncios... Quando, por exemplo, ouço uma peça traduzida, eu ouço a música, reconheço o ritmo na tradução, na maneira de representar. Embora não perceba o significado das palavras, reconheço tudo."
Jon Fosse

DIREÇÃO: FERNANDA D`UMBRA


02/03/2007

Grande Feira de produtos fora da validade...


Acordei de um sonho absurdo, decidido a comprar meu respiro.
Encontrei de tudo.
Pessoas vendendo os cabelos para os fazerem crescer novamente.
Pessoas vendendo viagens, sem nunca terem saído do estado.
Comunistas vendendo seus “All Stares” e suas camisas da Zoomp com a fronte do Che.
Grandes comerciantes vendendo óleo nacional a preço de importado, milagres importados e com impostos.
Imagens compradas que compram os princípios deturpados de pequenos prostitutos ignorantes.
Pais vendendo filhas e filhos para viajantes órfãos.
A fé sendo vendida em fitas e frascos.
Pessoas com seus rins nas mãos, oferecendo a preço de fábrica.
A fé que você acredita, é a que todos os outros deveriam acreditar. Enfim, você acredita na única verdade.
Pessoas que nascem e morrem junto com seus ídolos de cada novela.
Pessoas que se contentam em ser apenas mais um número de celular da vivo, não vale se não for pequeno...
Antes, grande moral, grande pau. Agora, pequeno burguês marginal e seus celulares animal.
Filhos que vendem os alicerces da família atual, suas tvs de plasma, para enfim conseguirem a sobriedade em meio a essa feira de espécies plastificadas.
A única coisa que eu não achei foi meu Valium com a carinha da courtney love, edição limitada.
Vendem de tudo, menos o essencial.
Será que alguém compraria uma das minhas bolas?
Voltei a dormir.

23/02/2007

Um pedido de esmola se transformou em assalto.
Gritos, empurrões...
Arma apontada...
- Passa a mochila Filho da Puta!
Enquanto eles reviravam minha mochila, embolsando tudo que eu tinha de valor...
A única coisa que me veio a cabeça foi:
- Nossa! Que fome!







O ser engraçado.

Sinto uma dificuldade terrível de ser engraçado.
De fazer as pessoas rirem.
Simplesmente rirem...
Engraçado essa sensação de querer ser engraçado no meio de uma sociedade patética...





15/02/2007

Estão podres as palavras


Estão podres as palavras – de passarem
Por sórdidas mentiras de canalhas
Que as usam ao revés como o caráter deles.
E podre de sonâmbulos os povos
Ante a maldade à solta de quem vive
A paz quotidiana da injustiça
Usá-las puras – como serão puras,
Se caem no silêncio em que os mais puros
Não sabem aonde a limpeza acaba.
E a corrupção começa? Como serão puros
Se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres e com elas apodrecem o mundo
E se dissolve em lama a criação do homem
Que só persiste em todos livremente
Onde as palavras fiquem como torre
Erguidas sexo de homem entre o céu e a terra.

(Jorge de Sena)



11/02/2007

Agente tava começando a tocar legal
Tipo
Tava começando a ficar bom
já já agente vai poder se apresentar
(Jon Fosse)







07/01/2007

Retrospectiva 2006



29/11/2006

A Saída

Veementemente ele viveu procurando uma porta.
Procurando um caminho, uma saída de emergência.
Sua vida transbordava beleza e fartura.
Sua vida transbordava.
Seus olhos estavam cansados, mas seu corpo exigia movimentos.
Seus olhos estavam embaçados e seu corpo implorava movimentos.
Procurou alguém que lhe ensinasse ou o empurrasse para fora.
Procurou resgatar lembranças escondidas, na vazia e escura sala da memória.
Passou anos procurando a saída...
Quando ele finalmente encontrou uma porta.
Correu para alcançá-la.
Mas já era tarde
Morreu ali, sem ultrapassá-la.
Morreu do lado de fora.



11/11/2006

O Baile

...era um dia chuvoso de inverno na grande cidade, ela usava um vestido de rendas amarelas ou amareladas, estava sentada em uma poltrona rasgada de frente a um aquecedor elétrico, de onde olhava para o telefone como se estivesse esperando um telefonema. Seus olhos pareciam aflitos e esperançosos. No velho rádio tocava uma música baixa e lenta, parecida com as músicas de Dinah Washington ou Nina Simone.
Seu apartamento era um tanto que mal conservado, possuía algumas marcas de bolor nas paredes já descascadas pelo tempo e alguns bibelôs espalhados pelo chão de taco também descascado. Vivia sozinha por muito tempo e já estava acostumada com o freqüente silêncio perturbador daquele lugar, não fosse por alguns cachorros abandonados ou alguns arruaceiros que passavam esporadicamente por aquela rua suja e mal iluminada. Alguém começou a gritar no apartamento vizinho, ela se levantou lentamente e buscou um copo de água, pegou alguns comprimidos e com as mãos levemente tremulas os levou a boca. Sentou-se novamente na velha poltrona e adormeceu...
Acordou duas horas mais tarde, já de madrugada, e olhando para os lados esticou os braços de uma forma quase mecânica pegando um pequeno toco de cigarro em um cinzeiro, sem acendê-lo levou-o a boca, por um momento ouviu passos na calçada, e mais do que depressa foi até o quarto onde novamente penteou os cabelos e passou um pouco mais do perfume francês que ganhara do... Retornou a poltrona e ali ficou até adormecer...
Acordou no outro dia com algumas dores no corpo, tomou um pouco da água do copo da noite anterior com mais alguns comprimidos. Podiam-se escutar algumas crianças gritando na rua, ela levantou-se lentamente escorando em alguns objetos e foi até a janela onde abriu um pequeno vão na cortina, deixando um pouco da luz do dia entrar. Dirigiu-se ao quarto onde se despiu cuidadosamente e vestiu um velho roupão. Voltou para a poltrona e estaticamente olhou para o pequeno vão da cortina por onde passava agora um pequeno facho de luz do sol. Permaneceu ali por horas... Novamente ouviram-se gritos no apartamento vizinho, ela se levantou e pegou um pequeno e amarelado papel que estava sob um dos bibelôs, e de maneira empolgada ela o leu, beijou-o e o guardou novamente sob o delicado objeto. Os gritos cessaram, ela virou o disco na vitrola já ligada e dançou sozinha por alguns instantes no centro da sala. Perdeu o fôlego e sentou-se novamente na velha poltrona onde depois de alguns instantes adormeceu.
Acordou duas horas depois com os gritos do apartamento vizinho, o facho de luz não mais do sol e sim do poste de iluminação da silenciosa rua adentrava o agora escuro apartamento. Ela levantou-se apressadamente olhando no velho relógio e dirigiu-se para o quarto onde abriu o velho armário de roupas, jogou alguns vestidos na cama e olhando no espelho experimentou um a um, escolheu o mesmo da noite passada, vestiu-o e cantarolando deu em sua nuca algumas baforadas do velho frasco vazio de perfume francês que ganhara do... Ela arrumou os cabelos e se dirigiu até a velha poltrona rasgada de frente ao aquecedor elétrico, de onde olhava para o telefone como se estivesse esperando um telefonema. Seus olhos pareciam aflitos e esperançosos. No velho rádio tocava uma música baixa e lenta, parecida com as músicas de Dinah Washington ou Nina Simone...



09/11/2006

Alter



Estou sonhando, eu receberei um cheque pelo correio toda semana no qual eu possa confiar. Estou parado em uma vitrina cheia de obras, escutando jazz, o mar avançando sobre mim, tento combatê-lo esvaziando garrafas e atirando-as com força. As janelas são altas com venezianas azuis e a vidraça leve e transparente. Cachorros tentam me abocanhar, mas ao tentarem, seus dentes se dissolvem. Escuto coisas lindas sobre tragédias e mitos, reviso todas as músicas e falas em minha cabeça. Será que... Não, eu prefiro que não...
De repente acordo, abro a janela, e decido voltar a viver... Eu sempre soube como continuar... Sempre olhando para frente e crescendo apaixonadamente. Enfim nasci e cresci em um lar de dificuldades, por isso mereço o que essa merda de mundo tem de melhor. Mas primeiro tenho de arrumar essa bagunça.




06/11/2006



Um grande musical


Eu estava aqui pensando com minhas bolinhas de champagne.
No como eu gostaria que a vida fosse um grande musical.
Com direito a trilhas e Eartha Kitt.
Dançaríamos cantando na chuva, ou no sol.
E tanto tristes ou felizes, sapatearíamos sobre os problemas.
Como eu gostaria que a vida fosse um grande musical.
Em lindos jardins de gardênia.
Rodopiaríamos, entre as flores por horas.
Choraríamos flores por ano.
Seriamos como gatos sem dono.
Pulando de telhado a telhado.
Faríamos grandes espetáculos, até um último suspiro nos afogar.
E ao invés de andar pelas ruas, dançaríamos.
E se alguém tentar nos fazer mal.
Seriam transformadas em pequenos suspiros de açúcar em meio à chuva espessa.
Então se dissolveriam lentamente, sem causar nenhuma alteração na cena.
E depois de um tempo, retornariam a cena como flor, uma linda flor cantante.
Que fizesse a alegria de amantes.
Ah...Como eu gostaria que á vida fosse um grande musical!
Com suaves cores perfumadas.
E ao invés de falar, cantaríamos.
Nos dirigiríamos a todos com música.
Perguntas cantadas.
Respostas cantadas.
Cantadas.
E quando chegasse a hora de apagarmos.
Seriamos carregados suavemente para o alto.
E as pessoas que aqui ficassem, nos salvariam com palmas.
E quando estivéssemos bem alto.
Seriamos jogados para baixo.
E nosso velho e cansado corpo, se transformaria em uma linda chuva de estrelas.
E a música tocaria mais alto por um momento.
Até que lentamente as luzes se apagariam para dar início a um novo musical...



ZIP-AH-DIH-DAH-DAH-DAY


28/10/2006

Despedida de uma esperança.


Mais um ciclo se fecha, quando penso na grande obra baseada na grande obra de Marquês de Sade, “Os 120 dias de Sodoma”, além de me preencher em muitos sentidos, também me fez ser gritos. Eis uma peça que deveria ser assistida por todos, pela sua transparência sem receios ou interesses. Tudo às claras, tudo lindamente iluminado, por mais triste e negra que fosse a realidade iluminada. Eu não tenho dúvida nenhuma de que uma peça como essa deveria - agora falando como cidadão – ser necessidade e ultilidade pública, obrigatória para qualquer indivíduo. É uma pena que muitos não tiveram a oportunidade de ver algo tão belo e tão iluminador, é uma pena que muitos não a assistiram como tal. Enfim, eu me despeço deste trabalho magnífico e bem realizado, sem a certeza de que houve mudanças, mas com a plena certeza de que fiz minha parte...







27/10/2006

Brasileiros acordai-vos se quiserdes...


Hoje assistindo ao jornal me deparei com uma triste cena. Centenas de pessoas guerreavam com policiais na porta de um estádio de futebol. A imagem me remeteu aos grandes protestos em busca de melhores condições, liberdade de expressão entre outras. Pedras voavam entre balas de borracha e cassetes. Pessoas gritavam gritos de revolta entre crianças e velhos. Só que ao invés de faixas e músicas exigindo melhoras, os protestos eram regados à ignorância e leviandade.
Pessoas perdendo a voz gritando marchinhas fúteis e imprecisas. Por um instante me lembrei da frase do grande marquês,“Franceses mais um esforço se quereis ser republicanos!”.

Brasileiros, menos leviandade e ignorância se quiserem ser respeitados!


19/10/2006

Amanheci na cidade das dores...

Amanheci na cidade das dores olhei pra min e suei minhas vontades tão escaladas e entrelaçadas por min, lanterna de vaga-lumes o que deseja neste tão gastado dia? A minha alegria escapou o meu sorriso murchou de tanta dor, à vontade minha! Em teu rio meu barco se encontrou gritei pra ti e tudo parou! Falei tolices e meninice de minha reles historia vil, olhei pros seus olhos cor de anil!
Anoiteci na cidade entre dores, olhei pra ti e suaram minhas angustias tão entrelaçadas em nós, lanterna que gera escuridão, o que deseja nesta tão feia linda noite?A minha tristeza se instalou em seu sorriso que exala dor, a vontade sua! Em meu rio teu barco se perdeu, gritei para mim, que sou deus! Gritei desejos e perversões em teu céu da boca, deixei de lado sua meninice e me afoguei na meiguice.
Nos teus desejos meus dentes se perderam, na sua saúde minha noite escureceu e fomos no soneto alegre e bucólico de Caio Fernando de Abreu! Tantas vezes em luas sem fim! Toquei trompete, clarinete, violino um lirismo louco e sem fim! Já no meu traço se mistura com o seu! E no terraço vi o meu jardim! Não sei sujeira e nem canseira a me embalar nos versos loucos de tanta dor que grita por min!
Gritando por ti perdi a voz, na minha doença te fiz saudável, olhando no espelho me fiz cego, para não ver uma vida reles, então me embreei na doçura dos versos de uma doce alma como Cecília Meireles, tentei cantar, mas não tinha o dó, minha voz rouca permaneceu sem dó, por dó? Não sei, só sei que perdi meu sofá...
Fui eu quem te roubou! De tanta formosura do seus de seus dedos escapou! Não vê que a imagem engana? Como em um lindo conto de Sagarana!Falei tolices no seu nariz, pintei breguices em seu quarto! Nunca fui tão feliz assim em um dia vil! Nunca tão poeta assim! Peguei-te de tal modo que fui cantar em matines! Mandei poetas saírem às ruas e dançar pra você, SÓ pra você, pra você ver o tamanho do furto do seu maldito quarto imundo!
Eu me deixei ser roubado! Esperando ser esmagado, como um pobre diabo tentando ser bom. Um santo amado que ao invés de calado se tornou pecador. Ah que dor eu sinto, quando tento sobreviver... Um dia quem sabe eu minto pra mim mesmo pra te ver. Voltamos para o gênesis da história. Deixa-me ficar aqui parado, calado sem fazer parte de inúteis memórias. Deixa-me morrer vivendo. Tenha piedade de mim.
Dê-me veneno...
Dou! Enveneno-te com a minha poesia, te alimento com a minha angustia, lhe trato como um rato, e não te aplico anestesias! Falei das flores para ti gozar, mas sem dores não vale a pena! Da tua dor nasce meu prazer, eterno marasmo de seus dias tolos e tenebrosos que tu passa a viver! Lancei meu veneno nas suas rosadas feridas! Matei sua nuance gelada e a mão amiga! Maltrate como um doce cão! E em suas lagrimas beije a minha mão!

Henrique Mello e David Cejkinski


Sexo e Poesia

É verdade que na maldade, todo mundo não é santo
O acalanto mais querido do seu amigo, pode te levar as melhores festas!
Já não sei da incerteza urbana, agora moro em uma ilha utópica aonde vou poetizar orgasmos...
Entre tantas multidões de couros, peles, pêlos e vértebras, me aluguei em teu lugar
Aonde tanto desejei estar...
Sem entretanto, muito menos as incertezas vão brilhar neste lindo mar...
Amar...
Loucamente, feito um louco alucinado, hesitado, fervorosamente de tantas ilusão caóticas...
Vi o apocalipse brilhar em seu modo indecente de me pegar
Bater, puxar...
Gargalhar e gostar, deste mar, deste inferno de bem estar....
Ao pegar seu beijos me senti com o tal desejo....
Louco desejo de desenfrear...
Amar...
Poeticamente em seu dentes enfeitei o meu desejo, louco alucinado de prazer...
Correr...
Para chegar ao extremo de poesia em nossa ilha...
Mirar...
Montanhas, corpos, desejo, suor, cheiro, pêlos muitos pêlos para enfeitar...
Poetizar
Sexo real delicadeza nacional, do arroz e feijão de cada dia, é preciso mudar!
Bater, correr, puxar, meter, molhar todos os céus possíveis...
Quando vi tanta luxuria em meio a santidade, revelei a maldade...
Ocasionalmente sexual fiz luxurias em seus diversos mundos
Imundo...
Vi seus olhos cor de louça em meus lábios de papel..
Em nossa torre de babel....
São línguas, e cheiros a se entrelaçar neste louco carrossel.
Girei, girei experimentei todos os gostos e desgostos..
Gostei de teus olhares, seus penares de prazer...
Morrer, doer...
E finalmente, gozar.

David Cejkinski 19-06-06

17/10/2006



Por um momento eu me sinto, só por um momento...

Tudo se torna tão pequeno aqui de cima.
As pessoas e as pessoas.
Seus problemas e suas soluções.
Seus vícios e preocupações.
Seus gritos e lamentações.
Suas fomes e suas vidas.
Nem sangue há em suas feridas.
Seus medos...
Seus sonhos comprados.
Seus corpos sarados.
Seus pensamentos predeterminados.
Por um momento eu me sinto um deus.
Eu adoraria continuar aqui em cima.
Mas o problema é que eu não tenho uma cobertura...








14/10/2006

Hoje eu implorei pra ser mais um.
Para me perder entre os muitos que estão ao meu redor.
Implorei para que as pessoas não me enxergassem.
Não me percebessem simplesmente. Abaixei a cabeça e fingi por uns instantes que não existia...
Senti uma forte vontade de gritar, em meio aquele cheiro de gordura.
Eu senti vontade de gritar.
As pessoas se comem vivas para conseguir um sorriso amarelo.
E eu prefiro ficar com minha boca banguela.






11/10/2006

O calote.

O jovem advogado voltava para a casa do seu trabalho, carregando com dificuldade algumas sacolas promocionais carregadas de livros, roupas e o resto de seu almoço. Parou em frente a uma dessas igrejas de nome estranho e janelas do tipo padrão, onde podia-se ouvir uma lenta e harmoniosa canção, porém um pouco melancólica. Era perto de uma avenida qualquer de uma cidade também qualquer. Ficou parado em frente a grande porta por alguns instantes, quase que hipnotizado pela lenta canção, até que um vento frio, esses de começo de inverno, o acordou daquele estado hipnótico e o fez continuar em seu regresso. O advogado caminhava às pressas, pelas ruas uma tanto vazias, onde via-se somente algumas travestis a espera de pessoas solitárias ou apenas divertidas.
Quando o jovem advogado estava a apenas três quadras de seu apartamento, um senhor, já velho e grisalho, vestindo um avental velho e sujo, o esperava ansioso na frente de um açougue. O jovem advogado reconhecendo o velho homem de avental, não exitou em atravessar com pressa a rua escura, fugindo enfim, de algo que aparentemente seria um tanto que inconveniente e impróprio para aquele momento. Apertou os passos e quase que correndo virou à esquina da escura rua sem olhar para trás.
Quando se viu enfim, a apenas duas quadras de sua casa, se viu na obrigação de fazer um caminho um pouco mais longo e demorado, para não se encontrar com o também inconveniente e desagradável senhor Manuel, dono do estacionamento de onde o jovem advogado não tirava seu carro há meses, por estar em débito, sendo sofridamente obrigado a seguir seus longos caminhos andando.
No outro dia de manhã, o relógio de som agudo despertava no pequeno apartamento, apartamento esse, que o jovem advogado todos os dias solitariamente acordava. Ele colocou as roupas apressadamente para mais um dia de trabalho, quando se deu conta que na tv estava passando um programa qualquer de um canal qualquer, mas típico da programação de domingo, ele apenas sorriu e voltou para cama. Acordou às 13h52min, abriu a dispensa e não encontrou nada além de sal e um pouco de fubá, sendo forçosamente obrigado a ir ao mercado e assim ter de esquematizar um pequeno mapa com indicações das ruas e lugares que lhe restavam créditos e acessos. Calculando a distancia de sua casa ao supermercado, ele levaria aproximadamente 15 minutos no percurso, agora se via na necessidade de fazer 1 hora a mais para chegar ao mesmo destino, pois além de estar em débito no açougue e no estacionamento, também estava na perfumaria do final da rua, na venda, na pequena loja de roupas e na farmácia.
O jovem advogado já se encontrava muito cansado de ter de alongar seus caminhos e de ter de acordar com três horas de antecedência todas às manhãs para ir ao trabalho, trabalho que ficava a apenas quatro quadras de sua casa. Seus caminhos cada vez maiores e seus créditos cada vez menores, tinha sempre de encontrar novos lugares para enfim se debitar, pois seu salário mensal era depositado em banco, maldito banco era aquele, que à meses lhe arrancava seus merecidos punhados de dinheiro.
Quando não se via mais em condições de sair de sua própria casa, o pobre advogado começou a se disfarçar, mas infelizmente seu plano foi funcional por apenas algumas semanas, pois seus credores o identificaram pelos seus sapatos gastos.
O infeliz advogado já não saia de sua casa à semanas, pois seus caminhos tinham-se acabado, como aqueles labirintos de revista de pintar. Sobreviveu de Delivery por alguns dias, até que lhe arrancaram o único serviço necessário para sua sobrevivência naquele momento, a linha telefônica.
Via-se cada vez mais em uma situação degradante, obrigado a subir andar por andar, porta por porta, pedindo, implorando e mendigando sobras de alimento e água.
Alguns meses depois o pobre advogado já não saia mais de seu apartamento, e assim fez até sua morte. Podia-se sentir um odor insuportável de carne pútrida pelo velho prédio de arquitetura dos anos 30. Há pessoas que juram até hoje, que o cheiro podre daquele desgraçado ser, se torna cada vez mais insuportável a cada inverno.


14/09/2006


A chuva sempre traz coisas novas...



Hoje eu estava conversando com uma velha senhora, muito magra e de olhar já esbranquiçado, cansado e profundo, porém não deixava de ser sereno e muito carinhoso.
Ela me contou um pouco de sua vida. Disse-me que mesmo tendo tais dificuldades, foi muito feliz e muito viva. Contou-me de alguns abusos que sofreu na infância, de uma irmã que morrera queimada na sua frente e de outra que segundo ela, nascera com defeito nas partes baixas. Singelamente abaixou a cabeça por uns instantes e com os olhos cheios de água sorriu. Entre um assunto triste e outro, ela sabiamente intercalava algumas coisinhas engraçadas. Acho que para não me entristecer, sei lá. Disse-me sorrindo que mesmo depois da morte de seu marido, jamais passou batom, ou usou sutien... Muitas vezes motivo de suas dolorosas surras.
Teve uma porção de filhos e entre uma gravidez e outra fazia promessas para santos, para que os mesmos não tivessem o destino de seus irmãos. Quase que sofridamente me contou de seus avós, de seus pais e de sua vida arrastada por uma enxada de roçar.
Respirou fundo, ficou em silêncio por alguns instantes e sorrindo me ofereceu uma maça.
Depois de muita insistência peguei a maçã e me despedi com um beijo em seu rosto e um pedido de benção.
Acho que agora eu entendo um pouco o motivo dela não sair de casa a anos, o porquê dela sorrir tanto, seus cinco tipos de calmantes diários e o seu medo da chuva...




13/09/2006


Quem tudo vê nada faz

O velho está feliz por estar morrendo
Pois já viu de tudo
Viu o povo ser esmagado
Censurado, calado...

Viu homens matarem por fé
Viu um bigode quadrado
Matar pessoa aos montes
Sem levantar nenhum pé

Pessoas que se arrastaram
Deixando pedaços no chão
Pessoas morrerem sorrindo
Não de alegria
Informações nunca existentes
Eu não sabia!

Pessoas saírem da vida e entrarem
Para história
Terra que se alimenta
De inexistentes memórias

Minha terra no momento
Não possui mais palmeiras
Somente muitos abutres
Que cobrem toda sujeira
Com a nossa embolorada
E amada bandeira

Só uma coisa não viu
Em um determinado momento
Ele fechou os olhos
E sentiu um enorme vazio
Nunca existiu, não resistiu.


13/09/2006

A CARIDADE


Em uma dessas campanhas de natal, André, um homem bom e caridoso, se dirigiu a uma destas empresas de correspondência, para enfim escolher um pedido ao Papai Noel.
- Quero a carta mais velha que vocês tiverem… - Pediu André ao atendente.
- Tenho aqui uma carta da campanha passada, estávamos limpando o depósito quando a encontramos embaixo de algumas caixas… - Respondeu o atendente entregando-lhe a carta.
André pegou a carta, agradeceu e se retirou. Chegando a sua casa, abriu a carta velha e suja, e tirou de dentro uma folha de papel já muito amarelada e de uma caligrafia infantil, cuja mesma continha a seguinte solicitação:
Querido Papai Noel:
Eu gostaria muito que nesse ano o senhor atendesse meu pedido. Estou desesperada. Precisamos urgentemente de um colchão para meu avô, pois ele está com uma grave doença que o deixa impossibilitado. Minha mãe trabalha todos os dias na casa do Senhor Matias como doméstica, enquanto eu tomo conta de meus irmãos e de meu avô. Ela ganha muito pouco para sustentar a casa, e não tem condições de comprar o tão necessitado colchão.
PS: Se sobrar algum dinheiro, me traga uma boneca… Beijos
Marianne

André comprou no mesmo dia o que a pobre menina lhe pediu, além de uma bela fantasia de Papai Noel. No outro dia de manhã, André foi recebido com grande felicidade e alvoroço, pelas quatro crianças que brincavam despreocupadamente no quintal da humilde casa. A menina pegou-o pela mão, e o levando para dentro da casa disse-lhe:
- Eu sabia que um dia o senhor viria! Eu sabia!
Ele deu uma grande gargalhada, entrou no escuro quarto, onde se podia avistar em cima de uma velha cama que possuía no lugar de um colchão, alguns velhos trapos sujos de sangue, que provavelmente seria relativo às muitas feridas causadas pelo rijo extrado de madeira, um homem velho, desdentado e muito magro. André percebeu que o pobre homem movimentava os lábios de maneira sutil, como quem está rezando.
- Pode parar de pedir meu caro amigo, pois o seu desejo se realizou! – exclamou penosamente nosso caridoso Papai Noel.
O velho homem abriu lentamente os olhos, sorriu carinhosamente e disse com um pouco de dificuldade:
- Sinto uma imensa felicidade pelo colchão que o homem me trouxe, mas não rezo por ele, e sim para que tenhamos um mundo melhor.
Baseado em uma história real.
Dedico ao meu pai...


11/09/2006

Pra ser sincero, eu...

02/09/2006



...dor eterna dor...


- Quantos anos?
- Eu tenho 8 anos.
- Você é feliz?
- (não responde)
- Você sabe que isso que ele fazia era errado?
- Não.
- Sua mãe sabia do que ele fazia com você?
- Sim, ela sabia.
- E o que dizia ela?
- Ela mandava eu ficar quieta, senão teriamos que morar na rua, então ela se mataria.
- Você gosta deles?
- Sim eu os amo muito?




02/09/2006


Morte em vida.

Eu imóvel, parado
Eu imóvel, calado
Eu imóvel, cansado
Eu imóvel, despreparado
Eu imóvel, sem telhado
Eu imóvel, cegado
Eu imóvel, desesperado
Desesperado, resolvi me movimentar
Mas já haviam cortado minhas pernas e meus braços.
Quando resolvi gritar
Já haviam cortado minha língua e minha garganta.
Quando resolvi viver
Me limitaram a vida.






IMAGEM REFLETIDA EM MIM .


A água da chuva subindo
o sol está à meus pés
minha sombra em minha cabeça
minhas lágrimas se confundem com meu suor
que goteja sangue
meus cabelos permanecem de pé
De cabeça pra baixo?
Eu ou o mundo?


Para o meu grande amigo Edu....


02/09/2006



Clareira sem luz...


Eles querem que nos calemos.
Por isso fartam nossas bocas com comida?
Não querem ouvir gritos.
Por isso nos ensinaram a rezar calados?
Querem que sejamos felizes.
Por isso nos dão confetes e serpentinas?
Querem que sejamos pacientes e esperançosos.
Por isso são tão demorados?
Querem que não vejamos.
Por isso enchem nossos olhos com bundas?
De certo querem que aprendamos.
A ser ideais sem ideais.



28/08/2006

Caminhando e sonhando por uma estrada verde e amarela...

Eu vi uma pobre mulher com fome
Tentando vender seu velho e enrugado corpo
Para um pobre homem que além de fome não tinha nome.
Eu vi pessoas sorrindo de alegria
Enquanto um pobre palhaço bebia
Em cima de uma ponte
Esperando criar coragem em sua melancolia
Para se encontrar com o Caronte.
Eu vi uma caneta transbordando tinta
Quando não havia papel.
Eu vi uma linda bailarina
Que jamais dançou além de um bordel.
Vi uma prostituta virgem.
E vi um homem chorando
Tentando vender sua própria filha
Que mostrava os dentes ao seu comando.
Eu vi ricos ficarem pobres
E pobres ficarem pobres.
Pobre dos pobres que estão mais pobres.
Eu vi homens cruéis
Serem chamados de nobres.
Eu vi pessoas que gritavam em silêncio.
Eu vejo o silêncio em algumas vozes.
Vi pessoas se fazendo de vítimas
Para não serem chamadas de algozes.
Vi pessoas dizerem tanto
E se calaram em ações.
Vi lágrimas não rolarem
Por estarem secos os corações.
Vi todas essa coisas um dia no passado.
Por isso eu grito.
Não vejo mais nada porque tapei meus olhos?
Ou porque omito?