














Photo by Rafael Martins
Coisas felizes:
Meus dois texto que já terminei... "Cubos de gelo no asfalto" e "Game Over", que provavelmente irá se tornar um roteiro de cinema... E "Decadente", o filme, direção: Vitor Dourado, segue abaixo alguns momentos;
Eu.
Eu, Carol e Marina.
(Que eu sempre trabalhe com grandes profissionais comos esses, Amém)
24/02/2008
Nada a declarar!!!!!!!
21/01/2008
Não tenho medo de expor os meus medos... Por mais patético que sejam, eles estão aqui. Mas um eu deixei preso entre as ferragens da semana passada. Eu, parado diante dela, e ela ali, me fazendo chorar, tremer e como que de costume me fazendo pequeno. Fiquei aproximadamente umas três horas olhando pra ela. A montanha russa... Pode parecer patético para os demais, mas quem me conhece pelo menos um pouco, sabe o quanto tenho medo de altura. Nem na janela do meu próprio apartamento eu fico por mais de um minuto... Com a boca seca e o coração acelerado fui até a fila do brinquedo, mas não por vontade própria, estava sendo empurrado por um grande amigo meu, me sentei dentre as claustrofóbicas cadeiras, no meio, e fechei os olhos, quando vi que o brinquedo se movimentava não hesitei em abri-los e gritar minha desistência para a mulher que o operava. Voltei para minha posição inicial, duas horas mais tarde, estava lá outra vez, só que agora por vontade própria, entrei no brinquedo e fechei os olhos, quando o carrinho começou a interminável subida, meu coração acelerou o dobro da primeira vez, e desta vez não era somente a boca que estava seca, mas todo meu interior... Com os olhos fechados e também secos, comecei a chorar de uma forma jamais vista por mim, sem som, e com pequenas contrações musculares... Quando finalmente o carrinho parou foi que todos os meus órgãos, como que em um reanimar, voltaram a funcionar. Abri os olhos e sai dali com a sensação de que nada poderia me deter... Depois da quinta vez que andei na montanha russa, abri os olhos, e pude ver finalmente do que se tratava aquele frio na barriga... Andei aproximadamente umas 25 vezes, em todas as poltronas, do primeiro ao último carro... Em casa, parei pra pensar que talvez o medo só existisse realmente para ser superado... E pelo menos um deles consegui deixar pra trás... Agora só falta superar o medo de gafanhoto, de ficar sozinho...
07/01/2008
Está tudo bem agora... Ela já morreu!
Eu gosto de ver o tempo passar... Não, não gosto... ?
Gosto de ver tudo se modificando ao meu redor... Não, não gosto... ?
Pois de que serve uma roda gigante parada? Ontem não consegui dormir direito com medo de uma mariposa que estava na parede do quarto... Provavelmente ela estava parada, porque eu também estava parado, olhando com os olhos estalados, estáticos, com medo de que ela com um vôo rasante me atacasse como um kamikaze agnótico. Desejei com todas as forças que ela morresse... Hoje acordo, e ela ainda está imóvel, só que agora no chão... Sem vida... Na verdade eu não queria que ela morresse... Queria apenas que ela tivesse o minimo de bom senso e fosse embora... Sei lá... Ela se foi, e eu continuo aqui esperando mais uma mariposa, um gafanhoto, uma barata, ou qualquer outra coisa que me faça sentir vivo... Sabe do que gosto mesmo? Que as coisas se vão para dar espaço a outras que vem... Ou será que esse é o meu medo? Ah... Deixa pra lá... Já passou! ?
Que venham novas coisas, que venham! ?
29/12/2007
Ela estava deitada na cama enquanto ele procurava por algo que não sabia, revirou gavetas, copos, geladeira... A cada minuto que passava o silêncio se espalhava pelo ar... Parado, o ar estava parado, o suor saia lentamente dos microscópicos orifícios da derme.
Ela deitada na cama e ele procurando algo que não sabia o que era... Ela se levantou e começou a andar pelo teto... Procurava no tampo de madeira compensada... As cores acinzentadas do quarto se confundiam com os pés da pequena que agora corria em círculos pelo teto... Seus dedos trêmulos corriam os potes de margarina embolorada... Sem pensar muito enfiou o braço esquerdo garganta a baixo e retirou um pedaço de vidro... Tossindo começou a soltar pequenos pedaços de espelhos pela boca, olhou para seu vômito e começou a se enxergar... Entre detritos de alimentos ele se enxergou... Ela para de correr pelo teto e senta-se ao lado do ventilador de teto que está com uma das hélices quebrada... Ele começa a soltar pedaços de si mesmo... Ela começa a rir ironicamente enquanto a hélice quebrada bate em seu calcanhar esquerdo... Sangra, ela ri ainda mais... Tudo começou errado... Acho que a culpa é sua... É... Eu também acho que a culpa é sua... Acho que você deveria melhorar... É, eu também acho que você deveria melhorar... Ele começa a chicotear a pequena... Ela chora de pena de si mesma... Agora me chicoteia... Sim... Ele começa a chorar de pena de si mesmo... Você às vezes é um saco... É, você também às vezes é um saco... Pare de repetir o que digo... Você também pare de repetir o que digo... Você não sabe do que preciso... Você... Também não sabe do que preciso... Você me questiona demais... Você me questiona demais... Deixe-me em paz... Continue o que estava fazendo... Está bem, só se você prometer que vai continuar também... Vamos... O que? Como das outras vezes... Fingir que está tudo bem? Não... Fingir que está tudo bem...
22/12/2007
"A filosofia de um século é o bom senso do próximo"
Quem disse essa besteira?
18/12/2007
Malditos elefantes...
Oi...
Oi amor...
Tudo bem?
Sim...
Está tudo bem comigo também...
Você está tão bonita hoje...
Obrigada...
Você me ama? Quero dizer, me ama um pouco?
Sim... Claro que eu te amo... Quero dizer, pelo menos um pouco... Mas por que quer saber?
Por nada...
Fala...
Por nada...
Eu te amo muito...
Silêncio.
Onde você estava ontem à noite?
Eu já disse que te amo...
Então me responde...
Eu te amo muito amor...
Onde?
Eu?
Estava?
Te amo...
Onde você estava? Porra!
Eu... Bem, fui atacada por uma manada de elefantes azuis que circulavam pela avenida Paulista, devem ter sido deixados pelos marcianos de que lhe falei na semana passada...
Na avenida Paulista? Elefantes... Marcianos...
Sim... (Começa a chorar)
Acho que você precisa se tratar...
Não acredita em mim? Sabia...Você não me ama mais...
15/12/2007
Estamos presos... Sempre presos...
Como afirmar? Deixo minhas inúteis exclamações de lado, para perguntar a todos que quiserem responder... Liberdade... Você pode me responder o que é a liberdade? Você pode me responder o que é a vida, a fé, a política, ou algo mais concreto, embora isento de exclamações, o que diziam os filósofos? O que afirmavam eles? Uma obra de arte só existe para que a enxerguem de maneiras diferentes, questionando algo, ou alguém. Ao contrário não seria arte, e sim um objeto de vaidade, nado-morto, apático. De que serve um filósofo que se diz certo em suas teorias? Que as exclamações sejam contestadoras. De que servem suas exclamações copiadas de idéias já pensadas e às vezes abandonadas pelo mesmo que as idealizou? De que servem? De que servem suas conclusões escusáveis? Você pode me explicar? A arte determinista nada mais do que um objeto decorativo em casa de burguês... Toda obra se modifica de acordo com os olhos que a vêem... Ou não? Toda obra deve se modificar de acordo com o tempo, espaço e acima de tudo sobre as questões em que vivemos agora... O porque continuar questionando ícones mortos? Ideais mumificados? Que se modifiquem as obras. Você pode me explicar o mundo em que vivo? Você pode me explicar? Acho acima de tudo que é isso que querem, enquanto comem nossos olhos, estamos voltados para o passado... Tudo se torna inútil para o indivíduo que está estupidamente se perguntando ainda se devemos ou não inventar a roda... Ou não?
11/12/2007
Ontem, 10/12/2007, foi dia Internacional dos direitos humanos, só me resta perguntar;
De quais?
Hoje foi dia de quê?
De cão?
Luciano Amarante/Folha Imagem
Moradores da favela Real Parque invadem pista local da Marginal Pinheiros em protesto contra a reintegração de posse no local, causando congestionamento na via
Constituição da República Federativa do Brasil.
Preâmbulo
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Capítulo II
Dos Direitos Sociais
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
http://www6.senado.gov.br/con1988/CON1988_31.12.2003/CON1988.htm
08/12/2007
A função do ator é saber fazer crer que uma caneta é uma guitarra...
Hoje apresentamos Roxo na sala dois do Teatro Fábrica. Tudo foi diferente, perspectiva diferente, cinco pessoas em um camarim improvisado de um por um. Outra peça, até que podia se chamar “Claustrofobia do Rock”. Mas foi legal, mesmo o baixo não funcionando, foi legal, legal não, foi do caralho! Todos ali na maior boa vontade, um público difícil, adolescentes superativos que reagiam a cada gesto com gritos e interações. Todo mundo segurou muito bem, a Júlia, eu e os caras. Estavamos praticamente sem nada, mas literalmente com tudo.
O velhote hoje está na rua.
Abandonou mulher e filhos para sambar aos pés da sétima maravilha do mundo.
Hoje vive perambulando pelas calçadas brasileiras.
Vive do INSS, que raramente devido à bebida se lembra de buscá-lo.
Só não aprendeu a sambar...
Mas aprendeu com os brasileiros a ter esperança por dias melhores e a obrigação de estar sempre sorrindo...
Últimos dias.
“Roxo” de Jon Fosse.
Sábados às 20:30 hs. e domingos às 20:00 hs. no Satyros I
“Os 120 dias de Sodoma”, de Marquês de Sade.
Sábados e domingos às 20:30 hs. no Satyros II
02/12/2007
Inutilidades minhas...
Hoje começo meu texto com uma frase de Oscar Wilde, “No momento em que um artista descobre o que as pessoas querem e procura atender a demanda, ele deixa de ser um artista e torna-se um artesão maçante ou divertido, um negociante honesto ou desonesto. Perde o direito de ser considerado artista”.
Vendo uma crítica da revista “Bacante” por Maurício Alcântara sobre o espetáculo “Les Éphémères” da CIA. Francesa “Théâtre du Soleil”, do qual tive a honra de assistir no mês passado, e sair com as mesmas sensações do crítico de que a pouco falei, uma pergunta me veio à mente quando li em sua crítica a comparação entre a grande CIA. Francesa e alguns “mitos do teatro brasileiro”.
Até que ponto o artista conserva sua essência, sua arte, sem se vender a um público ou patrocinador, para simplesmente dizer o que o povo quer ouvir?
As questões sempre ficam nas entrelinhas de um texto quase sempre inútil e provisório.
Como um dia disse Arrabal, “Não existe progresso no teatro; se existisse seríamos melhores do que Shakespeare”, embora os seus textos muitas vezes me soam de uma forma maçante, devido às muitas montagens mal interpretadas que vi nesses últimos anos, tenho de admitir sua grande genialidade, e tenho acima de tudo de concordar com o grande autor espanhol em dizer que o teatro está parado, e tomo a liberdade de acrescentar ainda que além de parado, o teatro se encontra calado em se tratando de suas verdadeiras funções sociais.
Eu encaro o teatro como um trabalho, não como hobby. Mas sei ser auto-crítico o suficiente para entender quando exerço meu oficio de uma forma inútil, porém necessária fisiologicamente, mesmo que triste seja essa realidade. E você?
E para finalizar esse divagar também inútil, deixo aqui uma frase do grande Felline, frase esta que sempre me persegue e me atormenta... “Você existe apenas naquilo que faz.” ... onde você está existindo hoje?
29/11/2007
As palavras me traem constantemente.
O meu corpo me trai constantemente.
Meu intelecto me trai constantemente.
Por isso, nada resta de mim em meu ser, somente os olhos.
Só os olhos falam o que a dialética esconde...
23/11/2007
Eu quero a vida em preto e branco, e não com essas cores primárias que a determinam...
19/11/2007
O cheiro do cravo...
A luz néon tomava conta do pequeno espaço, fazendo dos corpos pequenos borrões esbranquiçados em meio à tela escura da pequena boate de beira estrada. A música era alta, o que fazia com que as vozes sumissem, acho que propositalmente, pois os interesses se tornavam desde a entrada cada vez mais físico, somente físicos. O porque abrir a boca e estragar a mágica que tomava conta do pequeno e úmido espaço negro? Sentei-me em um pequeno sofá de dois lugares, mas que eram ocupados por três garotas e um vira-lata. Insaciáveis, pareciam insaciáveis, mas é lógico que ao chegar mais perto, via-se em seus olhos o desespero e a esperança de que ali, sentasse-se um homem, ou melhor, um príncipe que as levasse para um mundo onde não existisse néon e nem música alta, só um mundo de silêncio... No canto, estava ela, quase sumindo, não fosse pelo seu sorriso que tomava conta do lugar e assim fazia dele um lugar quase santificado. Uma santa com olhos lascivos e sorriso ingênuo formando uma mistura de Kahlo e Bosch em um enredo sadeano. Aproximei-me de uma forma brusca, e embalado ao velho tango de Gardel a arrastei para o centro daquele mundo... O cheiro de cravo saia de sua garganta como que fogo, me ardendo os olhos e a alma. Dançamos quase que a noite inteira... Quando amanheceu, e a luz adentrou pelas frestas do telhado danificado, pude notar que a santa era incompleta, não tinha os braços, mas que seu sorriso era realmente inesquecível. Como pude dançar a noite inteira com uma mulher, sem notar a falta dos seus braços? Nesse momento não tive dúvidas de que ela era a mulher da minha vida... Passaram-se anos até que me perguntasse o porque a escolhi em meio a mulheres perfeitas... Eu olhei em seus olhos aguados e disse. Porque você é linda...
14/11/2007
ARTHUR RIMBAUD
“ Insuportável é saber que nada é insuportável ”
Do blog do Chico Ribas
07/11/2007
Deve ser lua cheia...
Engraçado, hoje acordei com uma puta disposição...
Muita coisa boa, amigos, projetos, família, sol, coristina, Samira, limpar a casa (bem suja por sinal), aula de francês, punheta...
Será que eu tive um sonho bom?
Só sei que tenho que começar agora...
05/11/2007
Perfumes, cigarro, bebida e fritura.
Ela quase sempre chegava com cuidado, sem fazer barulho na porta para não me acordar, mas quase sempre era inútil, já estava acordado. Ficava deitado na cama esperando que me abraçasse para que enfim pudesse dormir sossegado. Seu cheiro era dos mais variados, perfumes, cigarro, bebida e fritura, as vezes bala de fruta, só às vezes. Tirava o salto para não fazer barulho, e na ponta dos pés ia saltitando de maneira quase engraçada até o banheiro, lavava o rosto, tirava a maquilagem pesada, usava creme anti-ruga, e se maquilava novamente, só que agora mais leve. Era aconchegante quando me acalentava com seus braços. O cheiro de cigarro, bebida, creme anti-ruga, fritura e às vezes bala de fruta logo tomava conta do quarto, e eu fingia dormir, enquanto ela chorava em silêncio. Eu esperava ela dormir, para entrelaçar meus dedos em seus cabelos negros e macios, embora engordurados. Ficava horas acariciando seus cabelos, e meus olhos estalados e secos quase não se moviam diante às imagens subliminares da marca embolorada do teto, homens, mulheres, monstros, cachorros e latidos. O silêncio tomava conta do pequeno quarto úmido, e às vezes não conseguindo dormir, fechava os olhos para aguçar os ouvidos e os sintonizava com músicas e sons imaginários... Então eu dormia com a esperança de acordar e talvez continuar sentindo o cheiro de perfume, cigarro, bebida, fritura e se eu desse sorte, laranja...
Crônicas de uma vida imaginária..
01/11/2007
Senhor Prefeito:
Está dando pra notar a diferença visual da cidade, desde que nosso magnífico prefeito, implantou o projeto cidade limpa. Já podemos enfim, passear com nossos amáveis cachorrinhos penteados pelas calçadas. Já não precisamos mais desviar daqueles animais imundos e sem o mínimo de civilidade. Obrigado senhor prefeito por trazer o mínimo de conforto para nós, pessoas honestas e trabalhadoras. Se conseguir um tempinho, passa aqui em casa para jantarmos juntos, eu, você e meu marido, que humildemente agradece sua preocupação para conosco, pessoas de bens.
Ontem eu soube por algumas vizinhas, que queimaram mais dois mendigos, eu ainda acho pouco. Peço-lhe humildemente um forno crematório como o de Auschwitz aqui para região central. Pois poupariamos tempo se queimássemos em massa, ao invés de um a um. A propósito, ontem vi seus oficiais executarem o serviço lindamente, limparam minha calçada como no tempo do grande ditador, que Deus o tenha.
Afinal, o que seria de nós sem almas boas e compulsivas por limpeza como a do senhor.
Sem mais, expeço meu humilde agradecimento.
QUEM SE DEFENDE
Quem se defende porque lhe tiram o ar Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo Que diz: ele agiu em legitima defesa. Mas O mesmo parágrafo silencia Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão. E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre Não lhe é permitido se defender
Bertold Brecht
30/10/2007
Ser ou não ser?
Eu me lembro de um dia que me perguntaram pós saber que eu era ator, se eu gostaria de ser uma estrela. Sim, eu respondi com um sorriso...
Se me perguntassem hoje, eu diria não, já existem estrelas em demasia, eu prefiro ser o pequeno espaço negro que ainda resta...
29/10/2007
Um relógio que não para.
Um sino tocando em um tom menor devido à chuva espessa.
O escuro tomando conta da noite, de repente Clara...
Surge assim uma luz multicor em meio à noite escura...
Pra Clarear os olhos que já não enxergam cores.
Surge assim cheirando à rosa, a raridade de uma orquídea.
24/10/2007
As melhores coisas estão escondidas no submundo, sob o palco, sob as palmas grandiosas de uma platéia sem critério. Junto com os ratos, estão os artistas, comendo as migalhas desse banquete repugnante chamado Brasil, do qual, apenas são convidados aqueles que são caníbais... Mas que um dia comeram com os ratos, embora digam não se lembrar...
16/10/2007
Abro a janela cinza do meu apartamento cinza, o dia também está cinza... De frente para o meu apartamento cinza, existe um prédio cinza claro que se confunde com o cinza também claro do céu. Na sacada, uma planta morta de coloração já cinza... Porra... Esse prefeito tirou a única coisa verde da minha vista. O outdor era legal... É... Eu acho... Não... Era legal.
A arte fast-food.
Nos últimos meses tenho ido freqüentemente ao teatro, e na grande maioria das vezes, por indicações equivocadas. Não tenho me surpreendido muito, porém pensado. Será que por tédio? Parece-me que a “bagunça” cênica, hoje se tornou moda, e não um descuido imprevisto, e quando me refiro a descuido, me refiro de uma maneira extremamente pejorativa. Os últimos espetáculos, ou melhor, peças, tem tido um caráter determinista, que por sua vez causa o distanciamento da grande maioria. Eu quero mais. Não quero mais sair de um espetáculo com a sensação de que fomos enganados, iludidos por um apogeu dramático de questões superficiais e provisórias. Quero sair do avesso, quero me questionar, quero que essas questões não sejam provisórias, e sim etéreas e dialéticas. Estamos passando por um momento superficial no teatro brasileiro, inerte, onde ainda a influência já ultrapassada dos europeus é copiada de uma maneira inconseqüente. O medo de ousar, ou a comercialização da arte com sua exigência em ter um produto rápido e industrializado, talvez seja a grande causadora desse comodismo por parte dos artistas, que tem por sua vez não somente a obrigação de divertir, mas de questionar. Que o questionamento não fique para segundo plano, que não fique oculto atrás de piadinhas levianas, ou escondido atrás da tão estúpida e aclamada bunda brasileira. Que o artista não seja resumido a um pedaço de papel putrefacto na parede. E que o teatro não seja a causa da ignorância e preguiça intelectual de nosso povo.
A arte vem sendo tratada como um fast-food, onde escolhemos pelo número, o produto nunca é o da imagem e muitas vezes nos fazem mal.
11/09/2007
Mais um dia no escuro...
O interfone toca.
Quem é?
Eletropaulo.
Ah...
Silêncio.
E aí...
Você veio cortar a energia?
É...
Corta aí...
Falow...
07/09/2007
O Sol quente faz coagular os fatos...
Ouvi dois disparos na madrugada de terça-feira. Rua Rego Freitas, uma das mais movimentadas, tida como ponto para aqueles que buscam satisfazer suas mais secretas fantasias com transexuais, algumas belíssimas, outras apenas. Pensei que talvez os disparos fossem apenas explosões corriqueiras de motocicletas barulhentas que circulam a área, causando gritos e alvoroço entre elas... Não era, pensei, elas não gritaram. Abri a janela do meu apartamento e vi, ela, deitada, acho que ainda tinha alguns espasmos musculares. A poça de sangue em sua cabeça crescia tanto quanto o esvaziamento local, o que minutos antes estava repleto de risadas pseudo feminina, agora estava parada, sem som mesmo, sem um único ruído. Quando finalmente seu corpo deixou os espasmos musculares, alguns começaram a se aproximar, apenas alguns. Seu corpo já sem vida era o centro da curiosidade instintiva do mais íntimo do ser. Alguns se perguntam; Como será, morrer? Seus olhos fitam detalhadamente a inércia e a vida que se dissolve na suja calçada, deixando a coloração gasta para ter um vermelho vivo. Alguns carros de polícia chegam. Os curiosos se aglomeram em volta do corpo. Alguns se cumprimentam, outros ficam estáticos, outros riem e outros apenas aproveitam a aglomeração para vender suas bijuterias. Algumas crianças sujas se aproximam do corpo e o cutucam com o pé. Depois de alguns minutos a ambulância chega, e de uma maneira fria eles se cumprimentam com apertos de mão e alguns sorrisos. Pouco a pouco as meninas vão ocupando seus postos, enfim, o trabalho tem que continuar. A ambulância sai escandalosamente com o corpo. Tudo volta ao normal, e a única coisa que prova a existência do fato, é a poça de sangue coagulado que ficou, e provavelmente ficará lá... No dia seguinte quando abro a janela, o sol está forte, tudo continua como sempre, algumas pessoas correm atrasadas e nem notam a marca da noite anterior, outras olham tentando imaginar o ocorrido, e outras, apenas passam por cima...
03/07/2007
Enquanto isso...
Ele estava deitado no carpete mofado da sala, enquanto ela sentada no sofá também da sala com seu espelho pequeno de moldura plástica e azul, administrava seus nove cremes capilares. Ele olhava para o teto, divagando do chão ao teto seus pensamentos iam longe e voltavam como que míssil teleguiado para dentro do pequeno espelho de moldura plástica e azul. Ao mudar do creme número cinco para o número seis, ela parou por uns momentos, ele também parou... Ambos quase se olharam... Ela quase que olhou para ele de forma quase que convidativa. Ele quase que olhou para ela de maneira quase animal. Ele retornou a divagação e ela continuou a emaranhar seus dedos encharcados do creme número seis nos cabelos lambuzados dos cremes de número um, dois, três, quatro, cinco e seis... Ele queria ser animal predador, enquanto ela queria ser preza... Eles quase se olham... Eles quase se mordem... Ela continuou com o seis, sete, oito e nove. Ele foi do nove ao Hummm... Ela com as mão lambuzadas e... Ele também lambuzado... Ela vai para o quarto e se deita... Ele vai para o quarto e se deita... Ela estica devagar o braço tremulo para fora do cobertor até o interruptor, apaga a luz e dorme... Ele também dorme...
Júlia e Fabiano de Souza Ramos em cena de "Roxo"SÉRGIO SALVIA COELHO CRÍTICO DA FOLHA
Adolescência é algo que a publicidade vende como sendo um paraíso sempre à disposição, e, estranho, os consumidores acreditam. Esquecem que é o momento em que a infância se desmistifica e o mundo adulto surge como pouquíssimo confiável, e que viver nesse vão é uma angústia alucinante: a adolescência é uma droga. Para falar dela, é preciso ficar perto da essência, sem sucumbir à idealização nem à farsa. Tarefa para Jon Fosse, o dramaturgo contemporâneo norueguês (da peça "Roxo", em cartaz na cidade) que, de tempos em tempos, burla a prudência dos produtores e vem parar como um tijolo nos palcos nacionais. Foi assim três anos atrás, com "O Nome", no Núcleo Experimental do Sesi, dirigido por Denise Weinberg, quando Fernanda D'Umbra se apaixonou pelo estilo do autor, a ponto de produzir do próprio bolso este "Roxo". RockNa trama simples, um garoto, entre a morte da avó que o criava e a eminente iniciação sexual com uma ambígua groupie de sua banda em formação, decide desertar de tudo. Nenhuma grande ação a ser empreitada: apenas permanecer no porão escuro, trancado pelos colegas abandonados, em brincadeira cruel. Nenhum abandono sério também: o grupo tocava mal, com cada componente tentando tirar de seu instrumento um balbucio que justificasse o tédio da existência. Uma quase história de amor, uma quase tragédia, agridoce como as lembranças comuns dessa época. Com Fosse, D'Umbra está em casa: os diálogos rarefeitos, com pausas eloqüentes e repetições hipnóticas como nos solos de rock, são o pão cotidiano do Cemitério dos Automóveis. Casa também do dramaturgo-músico Mário Bortolotto, que fez uma trilha a contrapelo para esse espetáculo, só de sobras de takes de gravação, guitarras à deriva, bateria amnésica, pontuando um texto de costuras para servir à precisão cirúrgica da direção. Fernanda D"Umbra mantém o pulso sem tolher a espontaneidade de seu jovem elenco, que enfrenta sem medo uma partitura difícil, revelando a inexperiência em algumas falas que soam decoradas, mas já dando provas de carisma. Aliado importantíssimo, Celso Melez faz uma luz sofisticada com recursos limitados, criando um clima mágico e tenebroso, como se a vida fosse de sombra. Sem floreios, mas com grande fé no taco, "Roxo" é imperdível. Desses 50 minutos compartilhados em um porão gelado, muito poderá surgir.
28/10/2006
Despedida de uma esperança.
Mais um ciclo se fecha, quando penso na grande obra baseada na grande obra de Marquês de Sade, “Os 120 dias de Sodoma”, além de me preencher em muitos sentidos, também me fez ser gritos. Eis uma peça que deveria ser assistida por todos, pela sua transparência sem receios ou interesses. Tudo às claras, tudo lindamente iluminado, por mais triste e negra que fosse a realidade iluminada. Eu não tenho dúvida nenhuma de que uma peça como essa deveria - agora falando como cidadão – ser necessidade e ultilidade pública, obrigatória para qualquer indivíduo. É uma pena que muitos não tiveram a oportunidade de ver algo tão belo e tão iluminador, é uma pena que muitos não a assistiram como tal. Enfim, eu me despeço deste trabalho magnífico e bem realizado, sem a certeza de que houve mudanças, mas com a plena certeza de que fiz minha parte...
11/09/2006
02/09/2006