sábado, 23 de abril de 2011

Como dizer que ainda não sinto?





De repente ele para, abre os olhos e olha para a frente, e entende que mundo é bem maior do que aquele pedaço de céu através da janela, e que seus planos, sonhos, jamais dependerão de um único coração, de uma única ação. Não posso fingir que a falta que sinto deixou de ser falta, mesmo porque o meu sorriso não esconde os meus olhos que dizem tanto quando fechados. Me diz agora, onde estão aqueles sonhos duplos, aquelas velhas histórias de preguiça, os meus futuros filhos, os meus chegares, os meus sorrisos, as minhas cócegas, as minhas pequenas brincadeiras sem graça, o encostar dos pés, o olhar por dentro e acima de tudo, o se sentir inteiro, mesmo que por pequenos momentos? Pode parecer engraçado, mas chego a pensar que a felicidade pode ser comparada a morfina, jamais deve ser consumida de maneira desenfreada, ela também pode ser bem perigosa se experimentada em grandes doses diárias, pois quando o corpo já viciado é privado da mesma, os nervos se paralisam, as pupilas dilatam, o estômago se contrai, sem falar daquela sensação de vazio. Então, você se violenta de várias formas possíveis, tentando sentir fisicamente essa dor, ou melhor, outra dor, para que aquela que você não sabe da onde vem seja um pouco esquecida, mesmo sabendo que será em vão. Então os dias vão passando e você continua tentando preencher esse enorme espaço que ficou em você, com algumas risadas nervosas, uns silêncios barulhentos, e entre uma punheta e um cigarro, você aperta firme os olhos para não vazarem, como um trem vazio. Talvez um dia eu entenda o porquê disso tudo, ou talvez não. Mas agora posso afirmar que mesmo com tudo isso aí fora, aqui dentro eu sei, e me orgulho, de ter experimentado parte do que os românticos diziam.